Cultura Digital Juvenil Crítica
Disciplina: Performances Antropológicas
Professora Iolene Lobato
Cultura Digital Juvenil Crítica
Pensar na juventude hodierna demanda pensarmos na cultura digital. Desde a educação infantil, podemos ver crianças de um ano sentadas nos colos das mães, olhos fixos na tela de um celular, hipnotizadas por um clipe enquanto aguardam a chegada do professor. A idade aumenta ao longo da educação básica, mas a cena permanece, exceto que, quem segura o celular é o próprio jovem, e na maioria das vezes não há ninguém consigo que possa emancipa-lo criticamente em seus consumos digitais.
A sociedade está integrada ao universo digital, podendo ser compreendida apenas em suas relações com o mesmo. O universo digital é um ambiente de comunicação estabelecido por diversas redes sociais e por isso ambiente de criação e difusão de signos.
Os professores estão cientes do que o jovem consome digitalmente? Que ética está presente nos signos estéticos consumidos pela juventude? Estes jovens estão sendo críticos ao que consomem, ou estão sendo subjugados por valores dominantes com objetivos mercadológicos e alienantes?
O computador, a internet, as redes sociais são um novo meio a ser trabalhado, a ser conhecido. Eisner explica que, na educação, o material, o meio, influência na forma como pensamos, no conteúdo (2008, p. 10). A era digital traz uma nova forma de linguagem e expressão, a metalinguagem, em que texto, imagem e som estão inter-relacionados, não podendo ser compreendidos separadamente.
Um dos maiores exemplos de arte metalinguística no ambiente digital é o clipe. A pesquisa de Cunha (s. d.) demonstra como os clipes musicais eram em 2011 as expressões mais consumidas pelos jovens entre 12 a 30 anos. Atualmente as redes sociais mais utilizadas são: Facebook, em primeiro lugar, e YouTube em segundo (DRUM, 2017).
O YouTube é a mais famosa rede social de upload de clipes, em que o jovem sorve e também compartilha suas expressões audiovisuais. Neste ambiente crianças e adolescentes estão expostos a uma infinita quantidade de informações, mas por não saber consumi-las, acaba sendo consumido por elas, como demonstra o clipe “Carmen”, do cantor belga Stromae:
Os clipes possuem vários signos digitais metalinguísticos que disseminam valores culturais capazes de dominar o jovem apreciador acrítico que está vulnerável, e passa a crer cegamente, e reproduzir o que lhe é exposto.
O adolescente tem a necessidade de ser aceito em um grupo ao qual possa expressar sua identidade. Neste sentido, ele se auto-afirma pelo consumo estético do grupo ao qual pertence. O(A) professor(a) entretanto, por pré-conceito e/ou tecnofobia, acaba por segregar a cultura digital juvenil, fazendo julgamentos de valor pautados em seus gostos pessoais. No que concerne a tecnologia, a escola muitas vezes promove apenas o ensino técnico, porém a instrumentalização tecnológica em si não contribui para um ensino de arte crítico e diferenciado. (PROTÁSIO, s. d., p. 9)
Por meio da arte/educação intermidiática digital é possível promovermos expressões metalinguísticas críticas, e por isso mais completas, pois todas as dimensões das artes estão integradas em um objeto expressivo, assim como se dá na vida.
A educação infantil muitas vezes é desconsiderada deste panorama, como se a criança pequena não fosse também partícipe da cultura digital juvenil. Como o que ela consome é primeiro lhe apresentado pela família, tem-se a compreensão equivocada de que ela não realiza escolhas próprias, e que por isso prescinde de uma arte/educação digital crítica que problematize estes conteúdos.
Para desenvolvermos uma educação crítica e libertária dos nossos jovens, faz-se imperativo abraçarmos o contexto cultural digital ao qual a criança e o adolescente está inserido. A partir de seus interesses pessoais é possível instiga-los a ampliar seu repertório, estabelecer novas relações e proporcionar experiências consumatórias que possam afetá-los e leva-los a ressignificar os seus consumos sob novas dimensões.
Elliot Eisner discursa que deveríamos educar nossos alunos para serem artistas, no sentido de desenvolverem ideias, sensações, habilidades e a imaginação de maneira integrada. (EISNER, 2008, p. 9)
Não existe certo ou errado nas artes, existem qualidades distintas. A apreciação artística é subjetiva, mas demanda uma arte/educação que instrumentalize o aluno criticamente acerca de seus códigos epistemológicos, para que ele seja um cidadão autônomo em suas escolhas. A arte nos ajuda a julgar onde não a regras específicas, neste sentido nos emancipa. (EISNER, 2008, p. 10)
Referências:
CUNHA, Fernanda Pereira da. Perfomances culturais intermidiáticas: Você tem fome do quê?. s.d.
DRUM, Marluci. As 10 maiores redes sociais – Atualizado. Disponível em: < https://www.oficinadanet.com.br/post/16064-quais-sao-as-dez-maiores-redes-sociais>. Acesso em 22 set. 2017.
EISNER. Elliot E. O que pode a educação aprender das artes sobre a prática da educação?. Currículo sem fronteira, v. 8, n. 2, pp.5-17 jul/dez. 2008.
PROTÁSIO, Nilceia. Depoimentos Provocativos. s.d.