O que você quer jogar?
Disciplina:
Seminário Intermidiático: música, artes cênicas, artes visuais e outras linguagens.
Com o objetivo de identificar os interesses das crianças do agrupamento Tatu-Bolinha vespertino do Departamento de Educação Infantil do CEPAE/UFG, realizei a intervenção proposta no post anterior a este, intitulado: "Identificando os interesses das crianças do DEI/CEPAE/UFG".
Será que as crianças escolherão os jogos de acordo com as divisões de gênero propostas nos sites?
1. Roda de Conversa
A rotina no Departamento de Educação Infantil inclui dois momentos de conversa com as crianças do agrupamento, o primeiro deles no início do dia, momento em que explicamos às crianças o que iremos realizar; tomamos decisões coletivamente referentes aos dia; compartilhamos novidades; relembramos os combinados.
Neste momento perguntei às crianças se conheciam os dois aparelhos: computador e celular, ao qual todas responderam efusivamente que sim, e que seus familiares haviam um ou mais daqueles aparelhos mostrados. Cinco das 15 crianças do grupo disseram possuir também um videogame.
Em seguida perguntei se utilizavam tais aparelhos e para quê, obtendo duas respostas já previstas: para jogar e assistir programas. As crianças começaram a contar o que gostavam de assistir ou jogar, pontuando os seguintes nomes:
- "Rayman rock"*, penso que seja este jogo.
- Jogo da memória
- Jogo do Star Wars
- Plants x Zumbi
- Angry Birds
- Jogo dos super heróis: homem aranha, capitão América.
- Dora Aventureira
- "Brenzi"*
- Jogo da Patrulha Canina
- Patrulha Canina
- "Jogo do avião"
- "Zoto"*
- "100 jogos", possivelmente um dos sites descritos como 100 jogos.
*Jogos não identificados.
Apesar de todas as crianças do agrupamento saberem cantar a música tema do desenho animado da Galinha Pintadinha, neste primeiro momento ela não foi mencionada.
A partir das falas das crianças tentei exibir no data show os nomes mencionados, porém a internet estava oscilando no momento, acontecimento clássico quando utilizamos mídias digitais, inviabilizando assim o acesso.
Nesta primeira conversa foi possível perceber bastante engajamento das crianças em falar sobre o assunto, em posicionar suas preferências e jogos prediletos, algo que não acontece com tanta frequência nas rodas de conversa. Uma observação interessante foi que apenas os meninos mencionaram Super Heróis, e majoritariamente meninas citaram jogos ou desenhos animados com protagonistas femininas.
2. Atividade: Laboratório
Diante da hipótese de que a presença de jogos especificamente para meninas em sites de jogos que se dizem destinados a crianças de 3 a 4 anos podem estar determinando condutas e gostos aliados a uma visão machista e limitada da mulher (os conteúdos dos jogos são majoritariamente relacionados a atividades de: se arrumar, cuidar de alguém e cozinhar, ações estas relegadas à mulher ao longo da história patriarcal como sendo exclusivamente sua obrigação: cuidar do lar, dos filhos, cozinhar e ainda se vestir bem), lancei como experiência no momento da atividade, que as crianças escolhessem entre dois jogos, conforme a descrição e a aparência dos mesmos.
O primeiro jogo era o mais popular de um link que apareceu durante a pesquisa no Google sobre "sites para crianças de 3 a 4 anos", e é chamado Bratz: Vestir Cloe no Novo Estilo.
O jogo apareceu como o mais popular do site, e estava dentro da categoria de jogos para meninas, e é descrito no site como:
O segundo jogo é referente ao primeiro site da lista do Google, e portanto o mais acessado no momento. O jogo das flores e das abelhas está em um site destinado dito educativo, que tem como intuito ensinar as crianças a operacionalizar o computador ou tablet.
Ao contrário do esperado a maioria das crianças escolheu o primeiro jogo, Bratz: Vestir Cloe no Novo Estilo independentemente do gênero: das 12 crianças que estavam presentes no dia:
obs. Uma das meninas afirmou já ter visto o filme da personagem Bratz, que estava como modelo do jogo para ser vestida. Nenhuma criança identificou nenhum dos jogos como familiar.
3. Roda de Avaliação
As rodas de avaliação realizadas ao final do turno são um momento muito importante em que as crianças contam o que mais lhes chamou atenção durante o período no DEI/CEPAE/UFG, o que gostaram ou não gostaram, e para avaliarmos as atividades e condutas pessoais.
Neste momento mostrei os jogos para as crianças em grupo e perguntei por que haviam feito a escolha que tinham feito. A maioria respondeu "Sei lá" enquanto outros disseram: "Nós escolhemos porque quisemos!".
Vídeo da primeira intervenção. O vídeo está borrado para esconder os rostos das crianças, mas infelizmente esta é uma ferramenta, que por ser gratuita está limitada, e uma vez colocada não pode ser alterada. Estou buscando novos programas e maneiras gratuitas de preservar as crianças, mas por enquanto fica este vídeo.
Tais resultados demonstraram, inicialmente, que meninos e meninas do agrupamento Tatu-Bolinha se sentiram mais atraídos pelo jogo de vestir a personagem Bratz não se importando com o conteúdo do jogo e sequer demonstrando algum entendimento de que aquele era descrito apenas para "meninas".
Analisando este laboratório percebo que este pensamento dissociado entre conteúdos de acordo com gênero não está totalmente absorvido pelas crianças, mas que vem sendo exposto a elas. O fato de que apenas meninos citaram super heróis na roda de conversa indica que mesmo imperceptível essa dicotomia está sendo oferecida às crianças desde cedo.
Mediante estas conclusões, levanto outra hipótese:
Se eu tivesse levado dois jogos, um de vestir uma personagem e outro de super heróis, as escolhas se manteriam como nesta primeira experiência?
Nos vídeos a seguir explano algumas conclusões desta primeira intervenção: